Toca o sino para o intervalo e em poucos segundos o pátio da escola é tomado por um incontável número de crianças com uma única expectativa: brincar! Mas por que a brincadeira ocupa apenas alguns minutos do cotidiano escolar? Preocupada com essa questão a educadora especialista em arte, educação e ludicidade, Valdenira Alves de Macedo, criou um projeto para capacitar professores da rede pública de ensino que atuam em Campo Grande a usarem a brincadeira para ensinar em sala de aula.
O primeiro passo do projeto é conscientizar os educadores a sobre importância do brincar e como ele pode influenciar no desenvolvimento psíquico e cognitivo das crianças nos primeiros anos escolares. Baseada em pesquisas como a da professora Tisuko Kishimoto, que defende a brincadeira como ferramenta de aprendizado, Valdenira revela que foi durante as oficinas do Memórias do Futuro que resolveu retomar os trabalhos com o brincar.
“O Memórias me fez relembrar esse projeto que eu tinha deixado para trás. Meu trabalho de conclusão da pós-graduação é sobre a importância da ludicidade para o ensino da história. Mas vejo que a brincadeira abrange mais do que uma disciplina. Ela tem reflexos dentro e fora da escola,” explica Valdenira.
Em entrevista à Tatiana Bertoni disponível na internet, a professora Kishimoto ressalta a importância interdisciplinar da brincadeira. “A brincadeira é importante para todas as áreas do conhecimento. Ela [a criança] aprende a pensar e usa essa forma de pensamento para descobrir o mundo dela”, declara a professora.
Para Valdenira, o primeiro efeito do brincar na didática do educador é conquistar a criança. “Por meio do brincar você entra no universo da criança e a conquista. Assim aqueles momentos maçantes de aprendizado podem se tornar mais prazerosos. A criança tem muito medo do universo novo, da alfabetização, por exemplo. Ao conquistar a criança pela brincadeira você quebra essas barreiras”, alega.
O projeto vai ter duas fases, a primeira ofereceu uma série de oficinas sobre a importância do brincar, a abordagem do Memórias do Futuro e o resgate da cultura da criança por meio da brincadeira. Na segunda fase, a educadora vai levar os pesquisadores do Memórias do Futuro para tratar sobre o uso da tecnologia para difusão da cultura da infância e como aplicar as tecnlogias da informação e comunicação no ambiente escolar.
As oficinas atingem ao todo 22 alunos que fazem parte da turma de Valdenira no curso Normal Médio de formação de professores oferecido pela SED-MS (Secretaria Estadual de Educação de Mato Grosso do Sul). Destes educadores, 12 atuam diretamente em CEINF (Centros de Educação Infantil) e o restante se prepara para ingressar no mercado.
No futuro, a educadora pretende estender as oficinas para outros cursos de Normal Médio de Campo Grande.
O brincar é um direito garantido pelo ECA mas acaba preterido na prática por falta de compreensão da sociedade e de políticas públicas específicas na área. “Algumas pessoas acreditam que a escola não é lugar de brincar, mas tem criança que só tem esse direito no ambiente escolar”, explica Valdenira. “Quando se entregam à brincadeira, todo mundo fica igual. O homo não é sapiens, o homo é ludens”, conclui a especialista.
A pesquisadora do brincar e fundadora da Casa Redonda, Maria Amélia Pereira, também acredita que a brincadeira é linguagem da criança, como explica no vídeo da “Campanha Brinque, Conviva,Compartilhe!” que você pode assistir clicando aqui.